O site Congresso em Foco revelou ontem que a estremecida relação entre PMDB e PT em Brasília, virou alvo de protesto no Pará. Se na capital federal o descontentamento é vocalizado pelos peemedebistas, em Belém, a insatisfação vem da parte dos petistas. Mais especificamente, de uma ala minoritária do partido, que não aceita apoiar a candidatura para governador de Helder Barbalho (PMDB-PA), filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Segundo a reportagem essa corrente pretende reunir 500 manifestantes contra a aliança com os Barbalhos, nesta quinta-feira, em frente à sede do diretório estadual do PT. Na ocasião, também será lançada a pré-candidatura do deputado federal Cláudio Puty ao governo estadual.
"É uma candidatura de protesto”, disse o deputado. Integrante da corrente Democracia Socialista (DS), Puty é o principal opositor da chapa costurada por Jader e pelo ex-presidente Lula, que traz Helder como candidato a governador e o ex-deputado Paulo Rocha (PT-PA), absolvido no processo do mensalão, como nome ao Senado. "Vamos fazer uma manifestação na porta do PT. Vou inscrever minha candidatura para registrar o total desacordo com essa aliança, que não faz o menor sentido para o estado. Essa aliança não representa o melhor para o Pará", critica o deputado.
A reportagem lembra que o partido decidirá se confirma o apoio à família Barbalho ou lança candidato próprio no próprio dia 29, durante congresso estadual do PT. O deputado petista reconhece que terá dificuldade para evitar a aliança com os peemedebistas. Segundo ele, 80% dos 400 delegados que votarão no congresso interno são ligados à corrente majoritária do partido, a Construindo um novo Brasil (CNB), antigo Campo Majoritário, de Lula e Paulo Rocha. Mas o deputado diz que ainda tem esperança de reverter o quadro. "Há um apoio sincero da direção do partido, mas ela não tem controle sobre sua própria base", avalia.
O ex-secretário da ex-governadora Ana Júlia (PT) diz que a aliança com o PMDB já no primeiro turno tem tudo para fracassar. Para o deputado, a aproximação com o grupo de Jader pode tirar votos da presidenta Dilma Rousseff no Pará. Segundo ele, pesquisa Ibope aponta que a petista tem 68% das intenções de voto entre os eleitores paraenses. "Do ponto de vista programático, é uma aposta na política mais tradicional possível", critica.
Para o deputado, a aliança entre petistas e peemedebistas também tende a favorecer a reeleição do atual governador Simão Jatene (PSDB). "Do ponto de vista pragmático, não me parece uma estratégia muito eficaz. Ao fazer o chapão com o PMDB, o PT abre mão de parte do seu eleitorado, que vai abandoná-lo", considera. "Defendo que repitamos o que fizemos em 2006, com duas candidaturas, para forçar o segundo turno. E não uma aliança a partir de um acordo de cúpula. Pra mim, isso tem tudo para dar errado", estima.
"O compromisso prematuro de dirigentes do PT em apoiar um candidato da base aliada desrespeita a democracia interna partidária, fragiliza enormemente a campanha de Dilma em nosso estado e obviamente, não apresenta uma alternativa transformadora para o Pará, já que aposta prioritariamente na aliança com forças políticas tradicionais do Estado, responsáveis, por ação e omissão, pelas mazelas de nosso povo", diz o manifesto que será entregue ao comando estadual do PT durante o protesto de amanhã.
Acordo entre Lula e Jader contraria decisão da maioria do diretório
O Pará foi um dos primeiros estados onde a direção do PT admitiu abrir mão de candidatura própria para apoiar o PMDB. Uma decisão que teve interferência direta do ex-presidente Lula. A chapa com Helder Barbalho e Paulo Rocha foi costurada em encontro reservado entre Lula e Jader em setembro do ano passado. Um mês depois, a coligação recebeu o aval da presidenta Dilma Rousseff, em jantar com o senador e outras lideranças peemedebistas. A decisão da cúpula petista, no entanto, reverteu uma posição tomada ainda em fevereiro do ano passado, quando a maioria do diretório estadual votou pelo lançamento de candidatura própria.
Cláudio Puty foi secretário de Estado e chefe da Casa Civil na gestão da governadora Ana Júlia. Graças à intervenção de Lula na época, a petista recebeu o apoio do PMDB paraense no segundo turno das eleições de 2006. Em troca, os peemedebistas ganharam o direito de preencher 30% dos cargos de confiança na administração estadual. Após disputas internas, o partido deixou a base da governadora e passou à oposição.
Na campanha de 2010, o PMDB lançou candidato próprio no primeiro turno e ajudou o tucano Simão Jatene a derrotar a petista no segundo turno. Mas o grupo comandado por Jader rompeu com o PSDB no ano passado e faz oposição cerrada ao atual governo e tenta a composição com a ala majoritária do PT, da qual Ana Júlia não faz parte. A ex-governadora, assim como Puty, integra a corrente Democracia Socialista.
Confira a íntegra do manifesto que será entregue ao comando estadual do PT contra os Barbalhos
Frente por candidatura própria do PT ao governo do Pará diz que aliança com o PMDB no Estado desrespeita a democracia interna partidária e ameaça retirar votos da presidente Dilma Rousseff. Confira o manifesto:
"1. O Partido dos Trabalhadores é reconhecidamente o maior partido do Brasil e da América Latina, possui uma grande história e papel destacado na redemocratização do país, na organização e defesa da classe trabalhadora, na implementação das políticas sociais de combate à miséria, de valorização do salário mínimo, que combinou crescimento econômico com desenvolvimento social. O PT mudou a cara do país através de políticas públicas que buscam transformar a nação num lugar menos injusto, desigual e feliz para a maioria do seu povo.
2. Em 2014 o PT tem o desafio de reeleger a presidenta Dilma em condições de realizar um mandato que avance nas conquistas democráticas do povo brasileiro – implementar a reforma política, tributária, urbana e agrária, além de democratizar os meios de comunicação. Para isso o PT necessita ser capaz de construir alianças eleitorais pautadas na coerência programática e cuja estratégia seja claramente a realização de mudanças estruturais em nossa sociedade.
3. Acreditamos que o PT do Pará deve enfrentar o desafio de liderar um bloco de forças de esquerda e progressistas capaz de derrotar o governo Jatene/PSDB. Afinal, temos clareza que o maior e principal inimigo da classe trabalhadora e da juventude do Pará e do Brasil são os tucanos e seus governos de proliferação da miséria e de ‘faz de conta’ na mídia. O governo do PSDB tenta insistentemente iludir e esconder do povo do Pará o caos generalizado em que vivemos, representado pelo assustador aumento da violência e da insegurança, pelo descaso com a saúde da população, no desmonte das políticas sociais implementadas no Governo Popular (2007 – 2010). O governo Jatene/PSDB é desastroso em realizações e se tornou motivo de constrangimento e vergonha até para seus aliados. Derrotar o governo Jatene, acreditamos, é tarefa prioritária para o PT do Pará e para a esquerda democrática e progressista.
4. O compromisso prematuro de dirigentes do PT em apoiar um candidato da base aliada desrespeita a democracia interna partidária, fragiliza enormemente a campanha de Dilma em nosso estado e obviamente, não apresenta uma alternativa transformadora para o Pará, já que aposta prioritariamente na aliança com forças políticas tradicionais do Estado, responsáveis, por ação e omissão, pelas mazelas de nosso povo.
5. Esses dirigentes propõem que apoiemos um candidato cujo grupo político teve papel fundamental na derrota do governo Ana Júlia, e que até seis meses atrás fazia parte do governo Jatene, ocupando secretarias estratégicas, e que, portanto, também é responsável pelo pífio resultado do atual governo.
6. O PT no Pará tem história e força politica para incidir na conjuntura política eleitoral de 2014: governamos 23 prefeituras no estado, temos várias vice-prefeituras, uma forte e combativa bancada de 8 deputados estaduais e 4 deputados federais, além de historicamente estarmos ligados às lutas dos movimentos sociais e populares.
7. Não necessitamos de sacrifícios inúteis, que desmobilizam nossa militância e simpatizantes, além de fragilizar politicamente nossos gestores municipais. Nas eleições de 2010, mesmo sem o engajamento do PMDB do Pará na campanha presidencial, nossa companheira Dilma teve, no primeiro turno, 47, 93% (equivalente a 1.699.799 votos) e no segundo turno 53,2% (1.791.443 votos). Hoje, como demonstram recentes pesquisas eleitorais, o PT está fortalecido em nosso Estado. Mesmo sem candidato lançado, temos bons nomes para a disputa. A presidenta Dilma, por sua vez, tem preferência de 68% dos eleitores. Esses dados comprovam que a tática de um “chapão” liderado por PMDB a qual setores da direção do partido apoiam não é a melhor alternativa eleitoral para derrotarmos as elites e oligarquias e para garantirmos uma vitória robusta de Dilma no Pará.
8. Queremos olhar nos olhos do/as paraenses com o brilho do orgulho de sermos petistas, que lutam incansavelmente para o Pará acompanhar as transformações e avanços por que passa o Brasil. Foi com esses objetivos e compromissos que apresentamos o nome do deputado federal Cláudio Puty para ser o candidato do PT ao governo do Estado e este aceitou esta tarefa para debater com a militância e a sociedade uma alternativa política nas eleições de 2014. Deputado Puty tem o apoio de militantes, diversas tendências, agrupamentos, parlamentares, dirigentes e simpatizantes do PT.
9. Neste sentido, a Frente Petista por uma Candidatura Própria ao Governo do Estado do Pará, CONCLAMA a participação dos militantes, filiados, dirigentes e simpatizantes para dialogarmos sobre os rumos que devemos seguir nestas eleições. Queremos fortalecer o PT do Pará, porque acreditamos que neste momento histórico somente nosso partido pode apresentar uma candidatura viável que lidere uma ampla aliança progressista que represente a derrota das oligarquias e dos tucanos. (Fonte: ORM)
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